sábado, 30 de abril de 2011

Hey, Mr Tamborine Man

O cinema nacional tem aprendido uma ótima lição nos últimos anos: há mais coisas para se mostrar nas telas do que problemas sociais. Não desmerecendo, mas focar a produção nacional apenas em pobreza, favelas e crises sociais estava ficando cansativo, chato e repetitivo. É interessante, portanto, quem foge dessa linha. Entretanto, ainda se filma muita bobeira à laSe Eu Fosse Você” que está de olho em grandes bilheterias.

Por causa disso, fiquei supreso ao assistir “Os Famosos e os Duendes da Morte”. O filme não trata de problemas sociais. O filme não almeja grandes bilheterias. Ele é apenas um bom filme com uma boa história para contar.

Ele se passa no interior gaúcho, numa cidadezinha de colonização alemã onde reside o protagonista (Henrique Larré). Fã de Bob Dylan, Larré interpreta um blogueiro que vive mais na internet do que no mundo real, tentando entender o que acontece consigo, com sua mãe, e com toda a cidade animadíssima para a festa junina da região. Aliás, ele não tenta entender. Ele vive isso. Passa por isso de maneira melancólica, isolado do mundo e atravessando a adolescência (a tal fase mais complicada da vida).

Adaptado do romance homônimo de Ismael Caneppele, “Os Famosos e os Duendes da Morte” é um filme poético. A parte técnica é um primor: brilhantemente fotografado e editado. O frio gaúcho é mostrado na tela, junto com suas grandes plantações, enfatizando ainda mais a sensação de isolamento do Mr. Tamborine Man. O ator principal, Henrique Larré, parece um adolescente comum, mas ele tem no olhar e no modo de falar uma naturalidade ímpar. Soa tão natural que é difícil não se envolver em seus dramas.

O diretor é Esmir Filho em sua estreia com longa-metragens. Com uma lista de curtas no currículo (entre eles o webhit "Tapa na Pantera"), Esmir conseguiu mostrar uma maturidade incomum para um diretor estreante. O filme não apela para o sentimentalismo. Nem cai no clichê do adolescente babaca. Nesse ponto, ele dialoga com Gus Van Sant, que com "Elefante" e "Paranoid Park" soube mostrar uma adolescência problemática, mas também melancólica e questionadora e que reconhece suas limitações no mundo. Essa fase de transição é metaforicamente mostrada no filme através de uma ponte (importante para a história, pois é dela que as pessoas da cidade se jogam em suicídio). Atravessar a ponte é cruzar a “tentação” de pôr fim aos problemas da maneira mais rápida e fatal. Atravessar a ponte é crescer. Esmir Filho atravessou.

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©2007 '' Por Elke di Barros