terça-feira, 14 de abril de 2009

Susan Boyle

Julgar pela aparência é errado? É. Mas é quase impossível não fazer isso diariamente (de pequenas a grandes coisas ou pessoas). Quando Susan Boyle entrou no palco do Britain's Got Talent ela parecia ter ido pagar mico. Bem, ela é um tanto exótica. Mas vejam o resultado dela cantando "I dreamed a dream", de Les Miserables.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Realidade x Ficção

O nome de Eduardo Coutinho é celebrado no meio cinematográfico por conta de seus documentários. Anteriormente só tive a oportunidade de assistir "Edifício Master" (2002), que é uma obra-prima. Um dos seus últimos trabalhos é "Jogo de Cena", lançado em 2007, e chamado por ele mesmo de documentário impuro.

Impuro por misturar ficção com realidade. Coutinho sabe brincar com isso através de várias maneiras. Primeiro são as mulheres que sobem ao palco "interpretar" suas histórias (ou como elas lembram dessas histórias). Depois disso, Coutinho elaborou um roteiro onde atrizes interpretam essas mesmas personagens reais. Criando diferentes retratos da mesma pessoa.

Isso confunde no começo. Quando nos deparamos com Andréa Beltrão, Fernanda Torres e Marília Pêra, sabemos que se tratam de atrizes interpretando papéis. E mostram três abordagens diferentes para a proposta elaborada por Coutinho. Beltrão se entrega à personagem. Torres tem problema em atingir o nível real necessário para a atuação. E Pêra faz uma performance mais técnica e sisuda; inclusive revelando que levou um cristal que faz chorar, caso Coutinho quisesse isso dela.

Mas e quanto às atrizes não conhecidas do grande público? É aí que mora a grande sacada do filme. Nos emocionamos com histórias contadas por "mulheres comuns", e no fim acabamos descobrindo que não passam de atrizes. São histórias tensas e dramáticas.
Talvez aí esteja a minha grande decepção com o filme. As histórias parecem ter sido escolhidas para fazer chorar. Coutinho recrutou mulheres através de um anúncio de jornal. Foram 83 respostas. E 23 histórias selecionadas. Mas o que se vê no filme são apenas umas cinco ou seis. Histórias contadas e recontadas. A repetição é proposital, mas desgastante. O limite rompido entre o real e a ficção parece danificar um trabalho intenso na seleção de personagens. Aliás, num universo de 83 mulheres não teriam histórias melhores do que apenas dramas e sonhos com pessoas já falecidas?

Coutinho é um gênio ao inovar e ao usar todas as possibilidades que o cinema oferece. Misturando ficção e realidade ele mexe com as pessoas. É possível se emocionar duas vezes com a mesma história, mas acho que não seria necessária essa apelação ao choro para o filme ser bom.















Fernanda Torres dialoga com Eduardo Coutinho em "Jogo de Cena"

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Pipoca Tunada

Em 2001, "Velozes e Furiosos" fez um sucesso inesperado. Ao misturar carros tunados, muito hip hop e mulheres gostosas, a fórmula tinha vários ingredientes que agradam a molecada em busca de ação. O filme fez tanto sucesso que gerou duas continuações. "+ Velozes e + Furiosos" (2003) repetia a mesma fórmula do anterior e "Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio" (2006) transferiu a ação para a capital nipônica (e trocou todo o elenco).

"Velozes e Furiosos 4" vem sendo vendido como a verdadeira continuação do filme de 2001. Justamente por reunir o elenco original (Vin Diesel, Paul Walker, Michelle Rodriguez e Jordana Brewster), o apelo deste quarto filme é imenso. A bilheteria da estreia nos EUA comprova isso. Foram 72 milhões de dólares em apenas três dias. Além de lá, o filme estreou simultaneamente em outros 32 países, incluindo o Brasil. E, milagrosamente, Ponta Grossa.

E vale a pena? Depende. A fórmula "carros + hip hop + mulheres" está lá, mas falta o charme do filme original. Vin Diesel é canastrão. E tentar tirar algum pingo de atuação dele é perda de tempo. Ele e Michelle Rodriguez tentam dar uma dramaticidade desnecessária ao filme. Jordana Brewster faz um papel ridículo, aparecendo pouco. O único que parece que sabe que o filme não merece ser levado a sério é Paul Walker, que está à vontade em seu personagem pela terceira vez.

A história é capenga. Depois de anos de crimes e corridas, Dom (Diesel) resolve parar por medo de represália. Ele se separa de Letty (Rodriguez) e se isola no Panamá. Tempos depois, precisa voltar a Los Angeles e acaba iniciando uma caçada vingativa contra um tal de Braga, que faz a linha do tráfico México-EUA com auxílio de pilotos de corrida. Além disso, o policial Brian (Walker) participa duma investigação para desmantelar o grupo de Braga.

O fiapo de história (de toda a série) é apenas uma desculpa para descarregar intensas cenas de ação e corridas inacreditáveis. E nesse ponto o novo filme falha, já que apenas uma corrida vale a pena: aquela que acontece no centro da cidade para escolher o novo piloto de Braga. As corridas no deserto são muito escuras e, além disso, usa-se duas vezes uma corrida por entre túneis rochosos. Além de ser repetitivo, é uma corrida previsível. O espaço restrito não permite malabarismos por parte dos pilotos.

E, apesar do filme ser clichê e previsível, a sua tosquice está exagerada. O roteiro é sofrível demais, com situações tão absurdas que beira o inacreditável. Um exemplo? Logo depois de esconder uma carga contrabandeada num pátio da polícia (AHN????), Dom e Brian roubam um carro de dentro do mesmo pátio (AHN???). Como ninguém vistoria a carga? Como eles saíram com o carro de lá?

Para quem gosta da série, é capaz de agradar. Tem muitos defeitos, mas a química entre Diesel e Walker é algo que vale a pena. Além disso, a primeira cena do filme já vale o ingresso. Se o clima divertido dessa cena fosse mantido durante todo o resto, teríamos um pipocão tunado da melhor qualidade.




















Dom: "Como nos velhos tempos"

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Um Grande balé em progressão

Pela segunda vez falarei sobre balé aqui. E isso que o blog só está começando! Aliás, é tão curioso falar sobre uma arte que eu tive tão pouco contato, mas, que ainda assim me encanta. E não era pra menos: a apresentação "In Progress" é da escola Bolshoi do Brasil, no Cine Teatro Ópera em 29 de março.

O Bolshoi - "grande", em russo - foi fundado em Moscou em 1776. Uma tradição de mais de duzentos anos, que, não apenas ensina e aprimora o balé, mas forma cidadãos especializados numa cultura milenar. 

Antes da apresentação do "In Progress", assistimos um vídeo (relativamente mais longo do que eu gostaria/esperava) sobre como é a vida na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Pra quem não sabe, a cidade de Joinville/SC foi a primeira cidade do mundo a receber uma filial do tradicional ballet russo. Isso em 2000. O intuito da filial brasileira é seguir o mesmo funcionamento da matriz. São ministradas aulas de dança, cultura, história da arte, instrumentos musicais, entre outros. Pelos depoimentos, dá para notar a importância da escola na vida dos diversos alunos, oriundos de vários cantos do Brasil e apaixonados pela arte da dança. São necessários 8 anos para se formar no Bolshoi, com aulas diárias e longas. Mas o esforço vale a pena?

A ver pelo "In Progress", sim. Na crítica anterior comentei do balé de repertório: aquele que conta uma historinha através das danças. "In Progress" é diferente. São retirados diversos atos de peças famosas para mostrar um pouco da evolução da bailado e das diferentes técnicas aprendidas no Bolshoi. Do clássico ao contemporâneo, diversos são os estilos apresentados no espetáculo.













Pas de Deux "O Corsário" com Deise Mendonça e Fellipe Camarotto, e coreografia de M. Petipa

No primeiro Ato do espetáculo desfilam trechos de "Chopiniana", "A Esmeralda", "Don Quixote", "O Quebra Nozes", entre outros. O que mais me chamou a atenção foi o pas de deux* (ahá! aprendi um termo!) "Chamas de Paris". Executado por Bruna Felício e Bruno Miranda, a coreografia parecia (a meu ver) bastante complexa e lindíssima. Completada por um figurino perfeito.

Também me surpreendi com Rafaela Fernandes, que se dobrou ao meio (pra trás!) no lindíssimo flamenco (isso?) de "Dança Mercedes". Foi uma apresentação rapidíssima, assim como "Esmeralda", dançada (e 'pandeirada') por Ariadne Okuyama. Mas, em apresentação isolada, ninguém bate o vigor de Cosme Gregory, que participou de três danças em "In Progress", sendo duas delas sozinho. Incrível e belíssimo.

Porém, a parte mais emocionante estava no pas de deux "O Corsário", já no segundo ato. A apresentação começou estranha. Logo no início eu notei uma leve desequilibrada da dançarina (Deise Mendonça). Ela e seu parceiro (Fellipe Camarotto) pareciam não estar em sintonia. Ainda bem que isso foi só no começo. Depois de várias entradas e saídas, eles fizeram o espetáculo mais lindo. Os movimentos mais viscerais e impactantes. E tomaram todo o teatro Ópera de surpresa. Não foi à toa que foram os únicos aplaudidos de pé ao fim de sua apresentação.













Última dança: "Work in Progress", com coreografia de H. Talmah

A maioria das danças do "In Progress" era clássica. Sobrou espaço para umas duas ou três danças regionais, e três danças contemporâneas. O fim de cada ato terminava com um espetáculo que parecia totalmente diferente do que estava sendo apresentado até então. Mudava-se trilha - entrava algo mais tenso e sombrio. Mudava-se a iluminação - mais escura. Tanto que uma das músicas era de autoria de Phillip Glass, responsável pelas trilhas da trilogia Qatsi (que conta a história da evolução do próprio homem). A dança contemporânea parecia mais dramática e mais dura. Contava com a participação de boa parte do elenco em sua execução. 

A única reclamação foi do custo. Para uma escola que se diz sem fins lucrativos, o preço de R$ 40 (com meia para estudantes) me parece um pouco salgado. Ainda assim, vale cada centavo investido. E foi bonito de ver o Ópera praticamente lotado (e isso que assisti no segundo, e último, dia de apresentação).














Fim do primeiro Ato. Philip Glass toca em Elixir, coreografada por P. Trehet

* Pas de Deux: coreografia composta por um bailarino e uma bailarina

 
©2007 '' Por Elke di Barros