terça-feira, 7 de abril de 2009

Realidade x Ficção

O nome de Eduardo Coutinho é celebrado no meio cinematográfico por conta de seus documentários. Anteriormente só tive a oportunidade de assistir "Edifício Master" (2002), que é uma obra-prima. Um dos seus últimos trabalhos é "Jogo de Cena", lançado em 2007, e chamado por ele mesmo de documentário impuro.

Impuro por misturar ficção com realidade. Coutinho sabe brincar com isso através de várias maneiras. Primeiro são as mulheres que sobem ao palco "interpretar" suas histórias (ou como elas lembram dessas histórias). Depois disso, Coutinho elaborou um roteiro onde atrizes interpretam essas mesmas personagens reais. Criando diferentes retratos da mesma pessoa.

Isso confunde no começo. Quando nos deparamos com Andréa Beltrão, Fernanda Torres e Marília Pêra, sabemos que se tratam de atrizes interpretando papéis. E mostram três abordagens diferentes para a proposta elaborada por Coutinho. Beltrão se entrega à personagem. Torres tem problema em atingir o nível real necessário para a atuação. E Pêra faz uma performance mais técnica e sisuda; inclusive revelando que levou um cristal que faz chorar, caso Coutinho quisesse isso dela.

Mas e quanto às atrizes não conhecidas do grande público? É aí que mora a grande sacada do filme. Nos emocionamos com histórias contadas por "mulheres comuns", e no fim acabamos descobrindo que não passam de atrizes. São histórias tensas e dramáticas.
Talvez aí esteja a minha grande decepção com o filme. As histórias parecem ter sido escolhidas para fazer chorar. Coutinho recrutou mulheres através de um anúncio de jornal. Foram 83 respostas. E 23 histórias selecionadas. Mas o que se vê no filme são apenas umas cinco ou seis. Histórias contadas e recontadas. A repetição é proposital, mas desgastante. O limite rompido entre o real e a ficção parece danificar um trabalho intenso na seleção de personagens. Aliás, num universo de 83 mulheres não teriam histórias melhores do que apenas dramas e sonhos com pessoas já falecidas?

Coutinho é um gênio ao inovar e ao usar todas as possibilidades que o cinema oferece. Misturando ficção e realidade ele mexe com as pessoas. É possível se emocionar duas vezes com a mesma história, mas acho que não seria necessária essa apelação ao choro para o filme ser bom.















Fernanda Torres dialoga com Eduardo Coutinho em "Jogo de Cena"

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©2007 '' Por Elke di Barros